Quando solicitado para atender um caso de traumatismo dentário o profissional deve estar preparado para solucionar não apenas a lesão mas também os problemas emocionais da família e da criança. Além das lesões dentárias, podem ocorrer lesões nos tecidos moles e nos tecidos periodontais.

Os incisivos centrais superiores são os dentes mais atingidos nos traumatismos dentários e ocorrem com mais frequência entre o 10º (décimo)  e o 24º (vigésimo quarto) mês nos dentes decíduos e na dentição permanente entre o 7º (sétimo) e o 11º (décimo primeiro) anos. Na dentição decídua o tipo de traumatismo mais comum é a luxação intrusiva e na permanente são as fraturas coronárias.

Lesões do tecido Mole

Abrasão

É caracterizada por uma lesão superficial com superfície hemorrágica e escoriada.

Tratamento: limpeza com sabonete antisséptico, soro ou clorexidina, nos casos de dor durante a amamentação, utilizar gaze embebida com solução analgésica (benzocaína).

Laceração

Ferimento raso ou profundo produzindo uma dilaceração tecidual por objeto cortante.

Tratamento: limpeza, remoção de corpos estranhos e sutura quando necessário.

Contusão

Ferimento produzido por impacto de objeto não cortante, causando uma hemorragia submucosa (esquimose). Caso ocorra na região de mento deve-se investigar por fraturas condilares e em dentes posteriores. Não requer tratamento, o sangramento é reabsorvido entre três e sete dias.

Lesões dos tecidos periodontais

Concussão

Ocorre a ruptura de poucas fibras do ligamento periodontal, com ausência de mobilidade e deslocamento. Há sensibilidade ao toque e à mastigação, sem alteração na imagem radiográfica. Como tratamento, adotar uma dieta pastosa por 14 dias e higiene oral adequada.

Subluxação

Ocorre a ruptura de um número maior de fibras do ligamento periodontal, com mobilidade dental, porém sem deslocamento do dente do box alveolar. Se a mobilidade for pequena, aguardar duas semanas, se for aumentada pode ser realizada contenção semi-rígida por 7 a 14 dias. Orientar cuidados mastigatórios e higienização adequada.

Luxação Lateral

É o deslocamento lateral do dente do alvéolo na direção vestibular, palatina/língual, mesial ou distal.

  • Tratamento dentes decíduos: Reposicionamento imediato dos dentes no arco e contenção flexível por 7 a 14 dias. Após 2 dias decorridos do trauma, o reposicionamento é difícil e pode ser necessário a exodontia. Caso ocorra fratura óssea ou possibilidade de lesão do germe dentário permanente, indica-se a extração do elemento. Orientar cuidados mastigatórios e higienização adequada.
  • Tratamento dentes permanentes: Reposicionamento do dente no alvéolo e contenção semi-rígida, quando ocorrer até 48 horas. Após 2 dois dias, o reposicionamento é extremamente difícil, e deve ser espontâneo ou realizado ortodonticamente. Posteriormente pode ocorrer necrose pulpar, necessitando de tratamento endodôntico.

Luxação Extrusiva

Deslocamento parcial do dente para fora do alvéolo. Há ruptura das fibras de ligamento periodontal e do suprimento neurovascular da polpa.

  • Tratamento em dentes decíduos: Reposicionamento imediato com pressão digital e contenção flexível por 7 a 14 dias. Caso ocorra após 2 dias ou risco de lesão do germe permanente, indica-se a exodontia.
  • Tratamento em dentes permanentes: Reposicionamento do dente no alvéolo por compressão digital e contenção flexível por 7 a 14 dias, caso o trauma tenha ocorrido até 48 horas. Após 2 dias decorrente do trauma, não há possibilidade de fazer o reposicionamento. Se houver possibilidade de recuperação das fibras periodontais, realizar contenção e desgaste no caso de desoclusão. O tratamento endodôntico deve ser realizado, se ocorrer necrose pulpar após o trauma.

Luxação Intrusiva

Deslocamento do dente para dentro do alvéolo, ocorre rompimento das fibras de ligamento periodontal e ruptura do feixe vascular nervoso.

  • Tratamento em dentes decíduos: Se a coroa do dente se deslocou para palatina, o ápice da raiz se desloca para a vestibular se afastando do germe dentário. Deve-se aguardar por reerupção espontânea do dente intruído por até 6 meses, porém se perfurar a tábua óssea vestibular deve-se realizar a exodontia. Se a coroa de deslocou para vestibular, o ápice da raiz se desloca para a palatina em direção ao germe dentário permanente, neste caso indica-se a exodontia.
  • Tratamento em dente permanente: Se a formação radicular estiver incompleta, aguardar a reerupção, caso não ocorra realizar tracionamento ortodôntico. Se a formação radicular estiver completa, realizar o tracionamento ortodôntico até 2 a 3 semanas.

Avulsão

Deslocamento total do dente para fora do alvéolo.

  • Tratamento para dentes decíduos: Não deve ser reimplantado para não forçar o coagulo ou o ápice radicular sobre o germe do dente permanente.
  • Tratamento para dentes permanentes: Reimplante imediato ainda no local do acidente. Quanto menor o tempo de reimplante, maiores as chances de sucesso. O dente pode ser armazenado em leite ou soro fisiológico para aguardar o reimplante.

 

Referências

TOLEDO, O. A. Odontopediatria: fundamentos para a prática clínica. São Paulo: 4 Ed, Editora Medbook, 2012.