O processo inflamatório é uma resposta de defesa do organismo frente a diferentes tipos de agressões que podem ser causadas por microrganismos, corpos estranhos, agentes químicos, necrose dos tecidos, calor, reações imunológicas ou qualquer outro fenômeno. Diversas substâncias são liberadas pelos tecidos danificados, causando alterações nos tecidos não lesionados ao redor. Inicialmente é caracterizado uma desnaturação de macromoléculas, queda do PH e liberação de substâncias como histamina, serotonina, cininas, prostaglandinas, enzimas proteolíticas e mucolíticos, que promovem vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar e migração celular. Tem como sinais clínicos locais, a dor, rubor, calor, edema e perda da função.

Assim, a inflamação é caracterizada pela:

  • Vasodilatação dos vasos sanguíneos locais, com o consequente aumento do fluxo sanguíneo local.
  • Aumento da permeabilidade dos capilares, permitindo a saída de grande quantidade de líquido para os espaços intersticiais.
  • Coagulação do líquido nos espaços intersticiais, devido à quantidade aumentada de fibrinogênio e outras proteínas que saíram dos capilares.
  • Migração de grande quantidade de granulócitos e monócitos para os tecidos
  • Dilatação das células teciduais

O macrófago tecidual é a primeira linha de defesa contra a infecção e já estão presentes nos tecidos minutos após o inicio da inflamação. A segunda linha de defesa são os neutrófilos que surgem aproximadamente após 1 hora do início da inflamação. E então como terceira linha de defesa ocorre a invasão dos monócitos do sangue, chegando ao tecido inflamado e diferenciando-se em macrófagos. A produção aumentada de granulócitos e de monócitos pela medula óssea é a quarta linha de defesa e levam cerca de 3 a 4 dias para deixar a medula óssea.

A inflamação pode ser aguda ou crônica. A aguda é de início rápido e de curta duração, caracterizada pela exudação de líquido e proteínas plasmáticas, além do acúmulo de leucócitos, predominantemente neutrófilos. A crônica de duração mais longa é caracterizada pelo influxo de linfócitos e macrófagos com proliferação vascular associada e fibrose (cicatrização). Entretanto, essas formas básicas de inflamação podem se sobrepor, e muitas variáveis modificam seu curso e aspecto histológico.

Mecanismo da Dor

Devido a ações de fatores mecânicos e químicos (histamina, serotonina, cininas, prostaglandinas), a dor é provocada pela estimulações nas terminações nervosas livres.

As prostaglandinas têm sua síntese desencadeada por fosfolipídeos da membrana celular lesada (lesão tecidual), através da ação da enzima fosfolipase A2 e dá origem ao ácido araquidônico (liberado no citosol), que quando ativado pelas cicloxigenases (COX-1, COX-2) origina as prostaglandinas, tromboxanas, prostacilinas e quando ativado pela enzima 5-lipoxigenase (LOX) origina os leucotrienos(LT), substâncias com atividade alérgica, resultando então no estado de hiperalgesia (estado de dor).

As protaglandinas são responsáveis pela produção do muco gástrico, as tromboxanas são vaso constritoras e favorecem a agregação plaquetária e as prostaciclinas são vasodilatadoras e inibem a agregação palquetária favorecendo a fibrinólise (desagregação e dissolução progressiva dos coágulos sanguíneos).

É conhecido que o leucotrieno B4 (LTB4) atrai os neutrófilos e outras células de defesa para o local da inflamação, com o objetivo de fagocitar e neutralizar corpos estranhos, podendo resultar em mais lesão tecidual e assim iniciando um novo processo de inflamação.

Esquema simplificado do mecanismo da dor (hiperalgesia)

Anti-inflamatórios

A absorção dos anti-inflamatórios ocorre pelo trato gástrico intestinal (TGI), a metabolização pelo fígado e a excreção pelos rins e devem ser utilizados com o objetivo de controlar a inflamação, permitir a cicatrização e proporcionar conforto ao paciente. São classificados como não esteróides (AINES) e esteróides (corticóides).

Como AINES, temos o Ibuprofeno, Diclofenaco e tenoxicam, atuam na inibição da síntese de cicloxigenase (COX-1 e COX-2), a nimesulida e os  coxibes (celecoxibe, etoricoxibe, meloxicam), atuam na inibição seletiva do COX-2. Os inibidores selectivos de COX-2 não devem ser administrados em pacientes portadores de hipertensão arterial, doença cardíaca isquêmica, pois inibem a síntese de prostaciclina, responsável pela hemostasia da pressão arterial e controle da agregação plaquetária. Os AINES são geralmente utilizados no pós-operatório e o objetivo é de analgesia preventiva, contudo podem ser prescritos quando a dor já estiver instalada. O Ibuprofeno é o único AINE aprovado para uso pediátrico, conforme recomendações do FDA (Food and Drugs Administration) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (ANDRADE, 2014).

Os corticóides são representados pela Betametasona, Dexametasona, Omcilon A, Diprospran e atuam na inibição da Fosfolipase A2, resultando em uma produção menor de prostaglantinas e leucotrienos. São indicados como medicação pré-operatória.

O paracetamol é classificado como um inibidor da cicloxigenase, porém quase não apresenta atividade anti-inflamatória. Sendo empregado apenas como analgésico. Outros analgésicos utilizados são a dipirona e a aspirina (ácido acetilsalicílico ou AAS), respeitando algumas restrições. O AAS possui ação anti-agregante plaquetária, que desfavorece a coagulação sanguínea. A dipirona deve ser evitada em gestantes, principalmente nos 3 primeiros meses e nas 6 últimas semanas. O Ibuprofeno em doses menores (200 mg) possui ação analgésica similar a dipirona e quase não apresenta atividade anti-inflamatória.

Analgesia

Regime

PreemptivaPré-operatório
PreventivaPós-Operatória
PerioperatóriaPré e Pós-operatório
(Fonte: ANDRADE, 2014)

Referências

Tortamano N, Armonia PL. Guia Terapêutico Odontológico. 14. Ed. Santos: Editora Santos, 2005.

GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 11ª ed. Rio de Janeiro, Elsevier Ed., 2006.

ANDRADE, Eduardo Dias de. Terapêutica medicamentosa em Odontologia 3. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2014.