Os abscessos são uma das principais causas que levam o paciente a procurar cuidados emergenciais em clínicas Odontológicas. Dependendo da origem da infecção, as lesões podem ser classificadas como abscesso periapical, periodontal e pericoronário.
Classificação
Diferentes classificações têm sido propostas para os abscessos periodontais: crônico ou agudo, simples ou múltiplo, gengival ou periodontal, ocorrendo no tecido periodontal de suporte ou na gengiva. Uma classificação proposta por Meng (1999), de acordo com área de acometimento, inclui abscesso gengival (sítios sadios), abscesso periodontal (agudo ou crônico, relacionado a bolsa periodontal) e abscesso pericoronário (dentes não completamente erupcionados) (AAP, 1999).
A classificação mais racional é baseada no critério etiológico. Dependendo da causa do processo infeccioso agudo, dois tipos de abscessos periodontais podem ocorrer:
- Abscesso relacionado a periodontite: quando a infecção aguda se origina do biofilme presente em bolsas periodontais.
- Abscesso não relacionado a periodontite: quando a infecção aguda se origina de outra fonte local, como impactação de corpos estranhos ou alterações na integridade da raiz.
Em um paciente com periodontite, o abscesso periodontal representa um período ativo de colapso de tecido periodontal que resulta na extensão da infecção em direção ao tecido periodontal ainda intacto. Essa formação de abscesso geralmente ocorre devido ao fechamento marginal de bolsas periodontais profundas e à falta de drenagem natural.
Mecanismos de formação do abscesso relacionado a periodontite:
- Exacerbação de lesão crônica: podem se desenvolver em bolsas periodontais profundas sem nenhuma influência externa, ocorrem em pacientes com periodontite não tratada ou infecção decorrente durante terapia periodontal de suporte.
- Abscesso periodontal pós-terapia
- Pós-raspagem: estão relacionadas a pequenos fragmentos de cálculos remanescentes que obstruem a entrada da bolsa após a ocorrência de edema na gengiva ou quando fragmentos de cálculos são forçados para o fundo do tecido periodontal previamente não inflamado (Dello Russo, 1985).
- Pós-Cirurgia: Remoção de cálculos subgengivais incompletas ou presença de corpo estranho no tecido periodontal (suturas, dispositivos regenerativos, preenchimentos periodontais) (Garrett et al, 1997).
- Pós-Antibiótico: Pode ocorrer em tratamento com antibióticos sistêmicos sem debridamento subgengival em pacientes com periodontite avançada.
O abscesso não relacionado à periodontite pode ocorrer sempre que existir um fator local externo que explica o processo inflamatório, como impactação de corpos estranhos (higienização oral, dispositivos ortodônticos, partículas de alimentos ect.) (Gillette & Van House, 1980, 1983) e alterações na morfologia da raiz (invaginada, fissurada, reabsorções externas, perfurações iatrogênicas, laceração).
Microbiota
A microbiota dos abscessos periodontais assemelha-se a microbiota das lesões crônicas das periodontite. A microbiota é polimicrobiana, dominada por não-móveis, gram-negativo, anaeróbio estrito, bastonetes. Desse grupo a espécie P. gengivalis é a espécie mais virulenta, variando de 50 a 100%. Outras espécies que podem ser encontradas incluem Prevotella Intermedia, Fusiobacterium nucleatum e Tannerella Forsytia, assim como a espécie Treponema.
Diagnóstico
Deve ser baseado na avaliação criteriosa e na interpretação da queixa principal, junto com os sinais clínicos e radiológicos encontrados no exame oral (Corbet, 2004).
Os sinais clínicos incluem: Dor, presença de lesão na raiz acometida, supuração, tumefação, sensibilidade a percussão horizontal, efeitos sistêmicos e vitalidade pulpar. A profundidade a sondagem é aumentada com sangramento a sondagem e aumento da mobilidade.
Diagnóstico Diferencial
Infecções agudas, tais como abscessos periapicais, cistos periapicais, fraturas verticais radiculares e abcessos endoperiodontais, podem ter aparência e sintomatologia silimiares ao abscesso periodontal, porém a etiologia é claramente diferente.
Os sinais e sintomas característicos do abcesso periodontal incluem: histórico da doença periodontal, reações as terapias periodontais prévias, sinais clínicos de infecção purulenta nas bolsas periodontais e possui vitalidade pulpar, ausência de cárie ou restauração.
Tratamento
Abrange dois estágios: controle da lesão aguda e o tratamento da lesão original. Na lesão aguda a abordagem pode ser aberta e fechada. A abordagem fechada consiste em:
- Controle da Dor
- Drenagem via sulco
- Raspagem subgengival
- Prescrição pós-operatório: analgésicos e antibióticos (acentuada tumefação e tensão tecidual) com amoxicilina 500 mg de 8/8 horas durante 3 a 5 dias
- Orientações ao paciente
Como complicações do abscesso, pode ocorrer a necessidade de extração dental nos casos de recidiva de abcessos e disseminação da infecção causando diferentes infecções sistêmicas em diversas partes do corpo.
Referências Bibliográficas
- LINDHE, J. Tratado de periodontologia clínica e implatologia oral, 5 o ed., Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2010