As inserções dos freios labiais consistem em faixas finas de tecido fibroso e muscular coberto por uma membrana mucosa, geralmente de forma triangular, que se estende do lábio e bochechas até o periósteo alveolar. Histologicamente é constituído de epitélio pavimentoso estratificado queratinizado na área de gengiva inserida e não queratinizado na porção vestibular, além de tecido conjuntivo frouxo altamente vascularizado (Costa, 2009).

O nível da inserção do freio pode variar tanto na altura do vestibulo, quando na crista do rebordo alveolar podendo ir até a área de papila incisiva. A medida que o processo alveolar vai crescento verticalmente e os dentes se erupcionam para baixo e para frente, o freio muda e assume uma configuração madura, podendo permanecer em uma posição mais elevada (considerado normal) ou manter a sua inserção na papila palatina (freio labial hipertrófico).

Desta forma, o freio labial da linha média são vistos como formações que, em condições normais, não têm consequências patológicas, porém quando o posicionamento é anormal ou hipertrófica, pode dificultar a higienização dos dentes e ser um fator anatômico desfavorável para a condição de saúde periodontal, retração dos tecidos gengivais, restrição dos movimentos labiais, interferir na fonação e na harmonia do sorriso, quando relacionado ao diastema interincisal (Oesterle e Shellhart, 1999). Nestes casos em que apresentam consequências patológicas, pode ser necessário uma intervenção cirúrgica para que seja possível eliminar a etiologia e obter um resultado satisfatório a longo prazo, como por exemplo, em conjunto com o tratamento Ortodôntico, para a prevenção de recidivas.

A cirurgia de freio labial tem como objetivo eliminar o excesso de tecido interdentário, reduzir a tensão dos tecidos da gengiva marginal e estabelecer a anatomia da região. A opção cirúrgica pode ser pela técnica de frenectomia (remoção total do freio), necessária para a correção de diastemas, neste caso com inserção periostal profunda ou inserido na sutura intermaxilar ou frenetomia (reposicionamento do freio) com inserção superficial para finalidades periodontais (melhora do controle da placa bacteriana) ou cirurgia pré-protética para instalação de próteses melhorando a sua fixação e estabilidade e maior conforto ao paciente. (VALLADARES, 1996).

Técnica cirúrgica de frenectomia com incisão simples

Dentre as técnicas cirúrgias na remoção dos freios, quando a faixa de mucosa e de tecido fibroso é relativamente estreita pode-se utilizar a técnica de excisão simples, contudo existem outras técnicas conforme o caso, como a zetaplastia, vestibuloplastia localizada com epitelização secundária que é geralmente preferível quando a inserção do freio tem base ampla e as assistidas por laser.

A anestesia local infiltrativa geralmente é suficiente e uma nova anestesia pode ser considerada caso a inserção do freio for palatina. Deve-se tomar cuidado com a infiltração do anestésico diretamente na area do freio para não alterar a anatomia e assim favorecer a visualização no momento da incisão.

O freio é exposto e o assistente cirúrgico deve elevar e everter o lábio superior.

Exposição e elevação do freio labial superior (fonte: HUPP, 2015)

A imobilização é por meio de pinças hemostáticas. É realizado uma incisão elíptica estreita ao redor da área do freio até o periósteo.

Imobilização e excisão ao longo das margens laterais do freio (fonte: HUPP, 2015).

Remoção do tecido e exposição do periósteo subjacente (fonte: HUPP, 2015).

O tecido fibroso do freio é então dissecado do periósteo subjacente e do tecido mole com instrumento cortante, e as margens da ferida são delicadamente dissecadas e reaproximadas.

A primeira sutura deve ser localizada na profundidade máxima do vestíbulo e deve incluir as duas margens da mucosa e o periósteo subjacente na altura do vestíbulo abaixo da espinha nasal anterior. Essa técnica reduz a formação de hematoma e permite a adaptação do tecido na altura máxima do vestíbulo. O restante da incisão deve ser fechado com suturas interrompidas. Ocasionalmente, não é possível aproximar a porção da excisão mais próxima à crista do rebordo alveolar; essa porção vai cicatrizar por segunda intenção sem dificuldades.

Posicionamento da sutura através das margens da mucosa e do periósteo e fechamento da ferida cirúrgica. Note que a remoção de tecido em áreas adjacentes à mucosa inserida às vezes impede o fechamento primário na região mais inferior da margem da ferida e desta forma irá cicatrizar por 2ª intenção (fonte: HUPP, 2015).

Referências

HUPP, J. R.; ELLIS, E. TUCKER, M. R. Cirurgia Oral e Maxilofacial Contemporânea. Elsevier, 6ed. 2015

VALLADARES NETO, J; RIBEIRO, A. V.; SILVA FILHO, O. G.; O dilema do diastema mediano e freio labial superior: Análise de pontos fundamentais. Rev. Odontológica do Brasil Central – ROBRAC. 1996

Costa HS, Farias IOB, Cardoso CG. Frenectomia labial superior como terapia no fechamento interincisal. Rev Assoc Paul Cir Dent 2009

Oesterle, L. e Shellhart, W. Maxillary. Midline diastemas: a look at the causes. Journal of the American Dental Association, 1990.

Henry, S., Levin, M. e Tsaknis, P. (1976). Histological features of superior labial frenum. Journal of Periodontology, 47, pp. 25-28.