A margem gengival é uma linha que segue o contorno da junção cemento-esmalte. A recessão/retração gengival é um posicionamento apical da margem gengival em relação à junção cemento-esmalte, decorrente da perda das fibras conjuntivas de proteção e inserção, acompanhada da reabsorção da crista óssea alveolar e necrose do tecido cementário (AAP, 2001). É uma característica comum em populações com um padrão bom ou deficiente de higiene oral.
A etiologia primária é sempre um processo de inflamação que pode ser por uma infecção ou trauma. Podem existir no mínimo 3 tipos de retrações gengivais associadas, como fatores mecânicos, lesões inflamatórias induzidas por placas e formas generalizadas de doenças periodontais destrutivas.
Fatores mecânicos
Pode ocorrer com o trauma produzido pela má escovação ou por um conjunto de fatores, como, a pressão, tempo, tipo das cerdas e o dentifrício utilizado. A lesão é caracterizada por uma gengiva clinicamente sadia, porém apresenta raiz exposta com um defeito de cunha, com a superfície limpa, lisa e polida. Caracterizando como abrasões cervicais (lesão cervical não cariosa), posterior ao início da recessão.
O trauma causado pelo mau uso do fio dental tem como característica uma fenda bifurcada, que pode ou não ser reversível. Quando o trauma está confinado ao tecido conjuntivo, tem aparência clínica avermelhada e neste caso pode ser reversível com a interrupção do trauma, nos casos de aparência esbranquiçada e a superfície radicular está visível, torna-se irreversível (Zucchelli, 2015).
Em lesões gengivais induzidas por vírus (Vírus Herpes simplex), a escovação dentária e o uso do fio dental, pode ser responsável pela evolução da infecção e nestes casos devem ser interrompidas e fazer uso de colutório (clorexidina) para o controle químico da placa (Zucchelli, 2015).
Lesões inflamatórias localizadas induzidas por placas
A lesão inflamatória se desenvolve em resposta à placa subgengival no tecido conjuntivo adjacente ao epitélio dentogengival. Ocorre geralmente em dentes em que o osso alveolar é fino ou está ausente (deiscência óssea) e além disso, a gengiva possui tecido fino.
Formas generalizadas de doença periodontal destrutiva
A perda de suporte periodontal nas áreas interproximais pode resultar na remodelagem compensatória do suporte na face vestibulolingual dos dentes, levando a um deslocamento apical da margem do tecido mole marginal (Serino et al, 1994).
Faixa de gengiva e Biotipo
Evidências de estudos longitudinais prospectivos mostraram que a faixa de gengiva não é um fator essencial para a prevenção da retração gengival, mas que o desenvolvimento da retração gengival resultará em perda da faixa de gengiva.
No biotipo periodontal fino e festonado um processo inflamatório irá ocasionar retração gengival nos tecidos moles causada pela necrose do tecido epitelial devido a insuficiência de nutrição sanguínea fornecida pelo tecido conjuntivo, enquanto que no biotipo plano e espesso um processo inflamatório irá causar a formação de bolsa periodontal, favorecido pela maior nutrição sanguínea do tecido conjuntivo mais espesso.
Classificação dos defeitos de recessão gengival
Miller (1985), classificou a recessão gengival em 4 classes, conforme a inserção periodontal interproximal, preservação da crista óssea e exposição radicular, da seguinte forma:
Referências
CARRANZA Jr., F.A.; NEWMAN M.G.; TAKEI H.H. Periodontia clínica , 12 o ed., Ed. Elsevier, Rio de Janeiro, 2016.
LINDHE, J. Tratado de periodontologia clínica e implatologia oral, 5 o ed., Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2010.
Zucchelli G, Mounssif I. Periodontal plastic surgery. Periodontol 2000; 2015
Miller PD Jr. A classification of marginal tissue recession. Int J Periodontics Restorative Dent 1985