O endodonto está representado pela dentina, polpa e cavidade pulpar, enquanto que a região apical e periapical é representada pelo ápice e pelos tecidos de sustentação do dente que contornam o ápice radicular (LEONARDO, 2008).

Dentina

A dentina é composta por aproximadamente 70% de material inorgânico, 20 % de material orgânico e 10% de água. As porcentagens são aproximadas em virtude da mineralização constante da dentina, sendo, portanto, variável com a idade e condição bucal.

A porção inorgânica da dentina constitui-se principalmente de cristais de hidroxiapatita – Ca10(PO4)6(OH)2. Os cristais são formados por milhares de unidades possuidoras da fórmula química destacada. Já a porção orgânica é constituída principalmente por colágeno (91%). A maior parte do colágeno é do tipo I, mas existe uma quantidade pequena de colágeno tipo V.

A porção orgânica da dentina (matriz) é constituída basicamente de colágeno e proteínas não colágenas. O colágeno representa 90% da constituição da matriz orgânica dentinária e forma a base para deposição de cristais de fosfato de cálcio para formar hidroxiapatita

A dentina formada durante o desenvolvimento dental é denominada de dentina primária, enquanto a dentina que se forma fisiologicamente durante o desenvolvimento completo do dente é chamada de dentina secundária e sua produção continua durante toda a vida do dente. A dentina secundária relaciona-se diretamente com a dentina primária que é altamente mineralizada, mas há alguns sinais de diferenciação entre elas. A formação da dentina secundária é lenta e contínua e reduz o volume da câmara pulpar.

Quando de restaurações ou cárie, ocorre a formação de dentina subjacente à área de contato com a área exposta e altera a morfologia da câmara pulpar. Essa dentina é mais irregular e pode ser denominada de dentina reacional ou terciária. A sua estrutura é irregular, podendo inclusive conter inclusões de células e em algumas áreas pode-se não observar túbulos dentinários (dentina atubular).

Quando da aplicação de materiais indutores de mineralização, diretamente sobre o tecido pulpar, ocorre a estimulação de células a se diferenciarem em odontoblastos e produzirem uma nova dentina com semelhanças à dentina fisiológica, essa dentina é chamada de dentina reparadora.

Túbulos dentinários

Percorrem toda a extensão da dentina, desde a junção amelo-dentinária ou cemento dentinaria, ocupando 20 a 30% do volume com conformação cônica, de diâmetro maior próximos à polpa, de aproximadamente 2,5 um.

Características dos túbulos dentinarios:

  • 45% de matéria inorgânica
  • 33% de matéria orgânica
  • 22% de água
  • comprimeto: 3,0/3,5 mm
  • Composição: prolongamentos odontoblásticos, fibras colágenas, fluido dentinario (plasma da micro-circulação pulpar, água, íons e moléculas) e fibras nervosas.

Polpa

Histologicamente, a polpa é um tecido conjuntivo, frouxo, que origina-se da papila dentária e está alojada na cavidade pulpar. O tecido pulpar é composto de vasos sanguíneos, feixes nervosos, artérias e vasos linfáticos. Possui as funções de formação (odontoblastos), reparação (fribroblastos), nutrição da dentina, e sensibilidade e defesa do dente e possui em sua periferia, em contato direto com a dentina, células especializadas representadas pelos odontoblastos.

A cavidade pulpar é dividida em câmara pulpar onde se localiza a polpa coronária e o canal radicular onde se localiza a polpa radicular.

Pequenas extensões para as cúspides dos dentes posteriores constituem os cornos pulpares, que são particularmente proeminentes na dentição permanente, sob as cúspides vestibulares dos pré-molares e as mésio-vestibulares dos molares dos dente decíduos. No entanto os cornos pulpares não são encontrados nos dentes anteriores. Para prevenir a exposição do tecido pulpar, essas regiões devem ser consideradas durante a realização do preparo cavitário para o tratamento restaurador.

Câmara Pulpar

Apresenta as seguintes partes:

  • Parede oclusal, incisal ou teto – é a porção de dentina que limita a câmara pulpar em direção oclusal ou incisal. Essa parede apresenta saliências e reentrâncias que correspondem aos sulcos e ao lóbulos de desenvolvimento (dentes anteriores) e às cúspides (pré-molares e molares).
  • Parede cervical ou assoalho – é a parede dentinária oposta e mais ou menos paralela a parede oclusal. Apresenta superfície convexa, lisa e polida na parte média, com depressões nos pontos que correspondem às entradas dos canais radiculares.
  • Paredes mesial, distal, vestibular e lingual – são as porções de dentina da câmara pulpar correspondentes às faces da coroa dentária.

Canal Radicular

Apresenta-se dividido em três terços: apical, médio e cervical. Biologicamente existem duas estruturas: canal dentinário e canal cementário.

O canal dentinário possui o seu maior diâmetro voltado para a câmara pulpar e o menor para apical, ao nível da união cemento-dentina-canal (CDC). É constituído por um tecido conjuntivo mucuso, tipo embrionário e rico em dentinoblastos. É onde se localiza a polpa dental, é considerado o “campo de ação do endodontista”, tendo por limite apical, a união CDC.

O canal cementário apresenta o menor diâmetro voltado para a união CDC e o maior diâmetro voltado para a região periapical. É constituído por tecido conjuntivo maduro sem dentinoblastos, porém rido em fibras e células cementoblastos (coto endo-periodontal). A preservação de sua vitalidade é de grande importância na reparação apical e periapical.

Sistema de Canais

Canais Amplos

São considerados canais amplos, os canais dos incisivos centrais superiores, caninos superiores e inferiores (ICS, CS e CI).

Canais Acessíveis

São considerados canais acessíveis:

  • os canais do incisivos laterais superiores
  • primeiro pré molar inferior e o segundo pré-molar superior (canal único)
  • canal palatino (molar superior)
  • canal distal (molar inferior)

Canais Atrésicos

São considerados canais atrésicos:

  • os canais dos incisivos centrais e laterais inferiores
  • os canais vestibulares do primeiro molar superior (2 canais)
  • canais vestibulares (molar superior)
  • canal mesiais (molar inferior)

Classificação

  • Interconduto (intercanal): une dois canais (principais bifurcados ou secundários) sem comunicação com o periodonto.
  • Canal Recorrente: Parte do canal principal, segue um trajeto dentinário e retorna ao canal principal sem alcançar o ápice radicular.
  • Canal Lateral (adventício): Parte do canal principal direto para o periodonto lateral, no terço cervical e médio da raiz, no terço apical é denominado secundário.
  • Canal Secundário: Parte do canal principal na região do terço apical, desemboca no periodonto.
  • Canal Acessório: Deriva do canal secundário e desemboca no periodonto.
  • Delta Apical: São múltiplas derivações que estão próximas do mesmo ápice e que saem do canal principal para terminar na zona apical, dando origem a múltiplos forames.
  • Cavo-Interradicular: Ramificação que parte do soalho da câmara pulpar até atingir o ligamento periodontal na bi ou tri-furcação.

Região Apical e Periapical

Representada pelos tecidos que incluem e contornam o ápice radicular, estando intimamente ligado a polpa, essa região pode sofrer alterações patológicas da mesma, quer pela ação dos produtos de sua decomposição, quer pela ação direta das bactérias ou de suas toxinas ou durante o tratamento do canal radicular. É composta pelas estruturas:

  • Limite cemento-dentina-canal (CDC)
  • Canal cementário
  • Coto endo-periodontal (preenche o canal cementário)
  • Cemento
  • Forame apical
  • Ligamento periodontal
  • Parede e osso alveolar

Referências Bibliográficas

SAYÃO, Sandra Endodontia: ciência, tecnologia e arte: do diagnóstico ao acompanhamento. São Paulo: Ed Santos, 2007.

LEONARDO, M. R. Endodontia: tratamento de canais radiculares. São Paulo: Artes Médicas, 2008.