O preparo dos dentes é uma etapa do tratamento protético que consiste em reduzir a estrutura coronal por meio de desgastes seletivos de esmalte e dentina, na quantidade e na forma pré-determinadas, com a finalidade de criar espaço para que o material restaurador possa viabilizar a reabilitação da estética, dar forma e função de uma ou mais coroas dentárias.

Para uma longevidade satisfatória da prótese, é fundamental que o dente preparado tenha condições mecânicas de mantê-la em posição e que o desgaste não seja exagerado e não altere a biologia pulpar, assim como o término cervical, que deve respeitar o espaço biológico, formado pelo epitélio juncional (inserção epitelial) com 0,97 mm e  a inserção do tecido conjuntivo com 1,07 mm, totalizando em média 2,04 mm. Além disso um desgaste inadequado pode prejudicar a estética, dessa forma um preparo deve ser bem indicado antes de ser executado e ser baseado em princípios fundamentais, como: a condição biológica (saúde dos tecidos bucais), mecânicas (integridade e durabilidade da restauração) e estéticas (afetam a aparência do paciente), sendo o mais conservador possível.

Princípios biológicos

Os dentes adjacentes, tecidos moles e a polpa do dente que está sendo preparado podem ser facilmente danificados durante o preparo.

Para a proteção dos dentes adjacentes deve-se utilizar uma matriz de metal e uma broca diamantada fina e afilada para que seja possível passar através da área de contato proximal sem afetar o dente adjacente.

Os tecidos moldes, como a língua e a bochecha, devem ser afastados com o auxílio de um odontoscópio ou extremidade do aspirador para evitar lesões.

A prevenção do dano pulpar requer a seleção de técnicas e materiais que reduzam o risco de danos durante o preparo da estrutura dental. Os preparos devem levar em consideração a morfologia da câmara pulpar do dente. Os degastes excessivos podem deixam uma camada muito fina de dentina, insuficiente para proteger o órgão pulpar, ou mesmo levar à exposição pulpar com consequente necessidade de tratamento endodôntico.

As causas de lesão pulpar podem ser devido:

  • Temperatura: a fricção do instrumento rotatório gera calor considerável, desta forma, o preparo deve ser sempre refrigerado pelo spray da caneta de alta rotação, para que os detritos sejam removidos, melhorando a eficiência do corte, prevenir a desidratação da dentina, fratura do esmalte e necrose pulpar.
  • Ação química: A ação química de certos materiais dentários (bases, resinas restauradoras, solventes e agentes de cimentação) podem causar danos pulpares, principalmente quando são aplicados a dentina recém cortada.
  • Ação bacteriana: O dano pulpar tem sido atribuído as bactérias remanescentes ou às que tem acesso à dentina devido a micro infiltração.

A saúde periodontal pode ser alterada durante o posicionamento subgengival do término cervical. A integridade do periodonto depende da preservação do espaço biológico(epitélio juncional e inserção conjuntiva), em que um periodonto normal são as seguintes distâncias, totalizando aproximadamente 3 mm, quando se adiciona a medida do epitélio do sulco ao espaço biológico:

  • Epitélio do sulco: 0,69 mm
  • Epitélio Juncional: 0,97 mm
  • Inserção conjuntiva: 1,07 mm

O término do preparo deve estar localizado no início do sulco gengival com aproximadamente 0,5 mm, preservando assim o epitélio juncional e a inserção conjuntiva.

Princípios Mecânicos

O preparo deve apresentar 4 requisitos: retenção, estabilidade, rigidez estrutural e integridade marginal. A espessura do esmalte dentário remanescente na face oclusal/incisal deve ser até 2 mm, quando são de 0,5 mm ou menos podem induzir a lesões pulpares graves.

Retenção

A retenção é obtida pelo contato das paredes internas da coroa com as superfícies do dente preparado e é dependente de aspectos relacionados com a área preparada, a altura, a largura e a conexidade das paredes de preparo. As paredes axiais devem apresentar 2 inclinações, a primeira na metade inferior (2~5º) e a segunda na metade superior (5~10º). Dentes com coroas grandes podem ser preparados com inclinações maiores do que 10º e dentes com coroas curtas com inclinação máxima de 5º.

Resistência

A forma do preparo deve prover resistência e estabilidade para minimizar ação das forças oblíquas que incidem sobre a prótese e que podem causar sua rotação e deslocamento. A altura e a angulação são essenciais para impedir o deslocamento da prótese.

  • Altura do preparo: igual ou superior a sua largura.
  • Angulação das paredes do preparo: quanto menor a angulação das paredes axiais do preparo, maior é a estabilidade da prótese.

Rigidez Estrutural

É dependente do tipo do material da infraestrutura, do tipo de término e da quantidade de desgaste dentário. A quantidade de desgaste do preparo deve ser suficiente para acomodar adequadamente a espessura do material restaurador (liga metálica e/ou cerâmica). Essa quantidade de desgaste/redução deve ser específica para cada material.

Integridade Marginal

Para que haja uma adequada adaptação da coroa no dente pilar, o término gengival deve ser nítido, para ser facilmente reproduzido na moldagem, e deve apresentar espessura suficiente para acomodar a coroa sem sobrecontorno. O subcontorno é a falta de extensão da margem da restauração até a margem do dente preparado.

Localização do Término Gengival

O término pode estar localizado em três níveis em relação a margem gengival:

  • Supragengival: Indicado para regiões não estéticas e sua localização deve ser 2 mm acima da margem gengival.
  • No nível da gengiva marginal: Não é recomendado devido ao grande acumulo de placa.
  • Subgengival: O término deve ser localizado 0,5 mm no interior do sulco gengival para se obter a melhor estética (ocultar a interface entre a restauração e o dente preparado no interior do sulco), aumentar a retenção do preparo em dentes com coroa curta e por ser considerada uma área com relativa imunidade a cárie.

Princípios Estéticos

Para evitar preparos com falta ou excesso de desgaste deve-se utilizar uma técnica de preparo que assegure a redução padronizada da estrutura dentária, de acordo com as necessidades estéticas e funcionais de cada região e dos materiais empregados para a confecção da prótese. Pode-se utilizar uma guia de matriz de silicone obtida a partir do enceramento diagnóstico ou do próprio dente se estiver bem posicionado no arco. Esse guia quando posicionado sobre o preparo, serve de referência para avaliar a quantidade de desgaste, minimizando riscos e assegurando uma redução padronizada.

Técnicas de Preparo

O preparo ideal é aquele que apresenta características de forma as mais próximas possíveis do dente antes de ter sido desgastado. Entretanto, se o dente estiver mal posicionado, o preparo deve corrigir essa deficiência, pra que a prótese presente retenção, sem sobrecontorno, ou fora de posição em relação ao dentes vizinhos.

TipoTérminoParede AxialParede Incisal/Oclusal
MetálicaChanfrete0,6 mmOclusal: 1,5 mm
MetalocerâmicaChanfrado1,2 mmIncisal: 2 mmm
Oclusal: 1,5 mm
CerâmicaOmbroTerço cervical: 1 mm
Terço Ocluso/incisal: 1,5 mm
Incisal: 2 mmm
Oclusal: 1,5 mm

Referências

ROSENSTIEL S.F. e Land, M.F., Prótese Fixa Contemporânea. 3 ed. São Paulo: Santos. 2005

PEGORARO LF et al. Fundamentos de Prótese Fixa – Série Abeno 1ed. Editora Artes Medicas – 2014

PEGORARO LF et al. Prótese Fixa. Bases para o planejamento em Reabilitação Oral. 2a edição. Artes Médicas, São Paulo, 2013.