O Periodonto, do grego “perio” significa ” em torno de” e ” odonto ” significa “dente”. É formado pela gengiva, ligamento periodontal, cemento radicular e osso alveolar. Possui a função de inserir o dente no tecido ósseo da maxila e da mandíbula e manter a integridade da superfície mastigatória da cavidade oral.
Gengiva
A gengiva cobre o processo alveolar e circunda a porção cervical dos dentes. Assume a sua forma e textura definitiva em associação com a erupção dos dentes e consiste em uma camada epitelial e tecido conjuntivo adjacente, chamado de lâmina própria.
É dividida anatomicamente em marginal (livre), inserida e área interdental (interproximal, papila interdental).
A estrutura específica dos diferentes tipos de gengiva reflete a sua eficácia como uma barreira à penetração de microrganismos e agentes nocivos nos tecidos mais profundos.
As características morfológicas da gengiva estão relacionadas com a dimensão do processo alveolar, a forma (anatomia) dos dentes, eventos que ocorrem durante a erupção dentária e com a eventual inclinação e posição dos dentes totalmente erupcionados (Wheeler, 1961; O´Connor & Biggs, 1964; Weisgold, 1977).
Gengiva Marginal ou livre
Possui cor rósea, superfície opaca e consistência firme que circunda os dentes em forma de colar e constitui a parede de tecido mole do sulco gengival. O ponto mais apical do arco côncavo da gengiva marginal é chamado de zênite gengival.
O sulco gengival é o espaço ou fenda rasa ao redor dos dentes, delimitada de um lado pela superfície dos dentes e do outro, pelo epitélio que reveste a gengiva marginal livre. Em condições normais a profundidade do sulco é aproximadamente zero milímetros e a profundidade clínica de sondagem de um sulco gengival clinicamente normal são de 2 a 3 milímetros. Seus limites são: coronário: margem gengival, apical: epitélio juncional, laterais: superfície dental e tecido dental.
O sulco gengival histológico é a distância da margem gengival até a porção mais coronária do epitélio juncional, com tamanho de aproximadamente 0,69 mm e é o local onde os términos de preparos para prótese e restaurações podem adentrar. Por isso considera-se um limite de 0,5 mm da margem gengival para não invadir o espaço biológico.
O sulco gengival clínico é determinado pela sonda periodontal, distância da margem gengival até a profundidade de penetração da sonda periodontal no interior do tecido gengival, desta forma determina a condição periodontal, a sondagem clínica tradicional.
Gengiva Inserida
A gengiva inserida se apresenta firme, resiliente e fortemente aderida ao periósteo do osso alveolar adjacente. A altura da faixa da gengiva inserida é a distância entre a junção muco gengival e a projeção externa do fundo do sulco gengival ou da bolsa periodontal.
Gengiva Interproximal (papila interdental)
A gengiva interproximal ocupa a ameia gengival e é determinada pelas relações de contato entre o dentes, pela largura da superfície proximal destes e pelo contato da junção cemento-esmalte.
Na região dos dentes anteriores possui formato piramidal e na região de pré-molar e molar são mais achatadas no sentido vestíbulo lingual formando uma concavidade (área de col). A área de COL é uma região que apresenta epitélio estratificado não queratinizado, área com maior acumulo de placa e sua anatomia favorece a penetração de toxinas bacterianas.
Biotipos
Ochenbein e Ross(1969) e Becker et al.(1997) propuseram que a anatomia da gengiva está relacionada com o contorno da crista óssea e que dois tipos básicos de arquitetura gengival podem existir: biotipo parabólico acentuado (fino) e biotipo plano (espesso).
Biotipo gengival parabólico acentuado (fino): A gengiva marginal vestibular é delicada e pode muitas vezes estar localizada apical a junção cemento-esmalte (diminuída), as papilas são altas e finas, a parede do osso vestibular é frequentemente fina e a distância vertical entre a crista óssea interdental e osso vestibular é longa ( – 4 mm). Um processo inflamatório no biotipo fino poderá gerar retração gengival.
Biotipo gengival plano (espesso): a gengiva marginal vestibular é comparativamente mais espessa, as papilas são frequentemente curtas, o osso da parede cortical vestibular é espesso e a distância vertical entre a crista óssea interdental e o osso vestibular é pequena (certa de 2 mm). Um processo inflamatório no biotipo espesso irá ter como consequência bolsa periodontal.
Biotipo plano e espesso | Biotipo fino e festonado |
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Espaço Biológico
O espaço biológico é a área de união entre a gengiva e a superfície dental. É o que determina a aderência do tecido gengival ao redor do elemento dental. É determinado pela distância da crista óssea alveolar à base do sulco gengival, ou seja, a partir do fim da crista óssea até a porção mais coronária do epitélio juncional (inserção epitelial). É então formado pelo epitélio juncional (inserção epitelial) com 0,97 mm e a inserção do tecido conjuntivo com 1,07 mm, totalizando em média 2,04 mm.
O epitélio juncional pode ser uma área de risco para a doença periodontal devido a frágil união com a superfície dental, por possuir pouco números de células e maior espaço entre elas, além de ser um epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado.
Ligamento Periodontal
O ligamento periodontal é composto por tecido conjuntivo frouxo, ricamente vascularizado e celular que circunda a raiz e se liga a parede interna do osso alveolar. É contínuo com a lâmina própria da gengiva e está separado da gengiva pelos feixes de fibras colágenas que conectam a crista do osso alveolar com a raiz (as fibras da crista alveolar).
O dente é unido ao osso por feixes de fibras colágenas que podem ser divididas nos seguintes grupos principais (LINDHE, 2010):
- Fibras da Crista Alveolar: Estendem-se obliquamente do cemento à crista óssea alveolar. Previnem a extrusão dentária e oferece resistência aos movimentos laterais dos dentes.
- Fibras Horizontais: Estendem-se perpendicularmente ao longo do eixo do dente e vão do cemento ao osso alveolar.
- Fibras Oblíquas: É o maior grupo de fibras do ligamento periodontal, estendem-se do cemento em direção coronal, obliquamente até o osso. Suporta o impacto vertical das forças da mastigação.
- Fibras Apicais: Irradiam-se de forma irregular, do cemento ao osso alveolar no fundo do alvéolo.
- Fibras Interradiculares: Estendem-se do cemento as áreas de bifurcação em dentes multiradiculares.
As porções terminais das fibras principais que se inserem no cemento e no osso alveolar são chamados de fibras de sharpey. No cemento possuem um diâmetro menor mas são mais numerosas do que as embutidas no osso alveolar.
As fibras transeptais não está envolvida no ligamento do dente com o osso alveolar, estendem-se interproximalmente sobre a crista alveolar e estão inseridas no cemento dos dentes adjacentes.
Funções do Ligamento Periodontal:
- Físicas:
- Formam um invólucro de tecido mole para proteger os vasos e nervos de danos mecânicos.
- Une o dente ao osso.
- Resiste ao impacto relacionado com as forças oclusais ( absorção de choques)
- Formativas e Remodeladora
- Nutricionais e Sensoriais: Fornece nutrientes para o cemento, o osso e a gengiva por meio de vasos sanguíneos, além de drenagem linfática.
- Regulação e Espessura do ligamento Periodontal: Adaptação as mudanças funcionais e mantém sua espessura em dimensões constantes.
As células do ligamento periodontal participam na formação e reabsorção de cemento e osso, que ocorrem na movimentação fisiológica do dente, assim como na acomodação do periodonto às forças oclusais e no reparo de lesões.
O ligamento periodontal (ricamente vascularizado) fornece nutrientes para o cemento e a gengiva através dos vasos sanguíneos, e é responsável pela drenagem linfática. É suprido com fibras nervosas sensoriais(região apical e canais do osso alveolar), capazes de transmitir sensação táctil, de pressão e de dor através dos ramos do nervo trigêmeo (CARRANZA, 2016).
Cemento Radicular
O cemento radicular é composto por tecido mineralizado que reveste as superfícies radiculares e ocasionalmente, pequenas porções das coroas dos dentes. Não possui vascularização, não tem inervação, não sofre remodelação e reabsorção fisiológicas, porém se caracteriza pela formação contínua ao longo da vida. Contém fibras colágenas embutidas em uma matriz orgânica. Sua porção mineral, principalmente de hidroxiapatita é aproximadamente 65% de seu peso, enquanto que no osso são 60%.
Possui a função de inserir as fibras de ligamento periodontal na raiz e contribui para o processo de reparo após danos a superfície radicular.
Esta classificado da seguinte forma:
- Cemento Acelular Afibrilar: formado exclusivamente por uma susbstância fundamental mineralizada.
- Cemento Acelular de Fibras Extrínsecas (primário): Encontrado na porção coronária e média da raiz e contém principalmente feixes de fibras de sharpey. É uma parte importante dos tecidos de inserção e conecta o dente ao osso alveolar propriamente dito.
- Cemento Celular Estratificado Misto: Está presente no terço apical das raizes e áreas de furca. Possui fibras extrínsecas e intrínsecas e cimentócitos. Deposita-se sobre o cemento primário.
- Cemento Celular de Fibras Intrínsecas: Encontrado nas lacunas de reabsorção e contém cimentócitos.
A presença dos cementócitos permite o transporte de nutrientes através do cemento e contribui para a manutenção da vitalidade deste tecido mineralizado.
Junção Amelocementária
O cemento na junção amelocementária e imediatamente adjacente a esta, apresenta importância clínica durante os procedimentos de raspagem e alisamento radicular. Três tipos de relação envolvendo o cemento podem existir na junção amelocementária:
- 60% a 65% dos casos, o cemento sobrepõe o esmalte.
- 30% existe uma junta topo a topo
- 5% a 10% cemento e esmalte estão fisicamente separados e não se encontram, neste caso, a retração gengival pode resultar em sensibilidade dentinária.
Junção Cementodentinária
É a região apicoterminal do cemento, onde o cemento se junta a dentina do canal radicular interno. Quando o tratamento endodôntico é realizado, o material obturador deve se estender a junção cemento-dentinária. A largura da junção parece não aumentar ou diminuir com a idade, mantendo-se relativamente estável.
Osso Alveolar
É a porção da maxila e da mandíbula que formam e dão suporte aos alvéolos dentários. Se forma durante o processo de erupção dentária e desaparece gradualmente após a perda dentária. A função principal é distribuir e absorver a forças geradas pela mastigação ou outros contatos dentários.
Uma vez que os processos alveolares se desenvolvem e remodelam com a formação do dente e sua erupção, eles são dependentes da presença do elemento dental. Portanto o tamanho, a forma, a localização e a função dos dentes determinam a morfologia do processo alveolar.
O osso que cobre as superfícies radiculares é consideravelmente mais espesso do lado palatino do que do lado vestibular da maxila. As paredes dos alvéolos são revestidas por osso compacto e a área entre os alvéolos e entre as paredes de osso compacto são preenchidas por osso esponjoso. O osso esponjoso ocupa a maior parte dos septos interdentais, mas uma porção relativamente pequena das lâminas vestibular e palatina.
O osso esponjoso contém trabéculas ósseas, cuja arquitetura e tamanho são determinados geneticamente e em parte pelas forças a que os dentes estão expostos durante a função. A tábua óssea é espessa no lado palatino e vestibular da região de molares, mas delgada na região vestibular anterior.
Tais defeitos ocorrem em aproximadamente 20% dos dentes, com maior frequência no osso vestibular do que no lingual e são mais comuns em dentes anteriores do que em posteriores e geralmente bilaterais.
A camada óssea no qual estão inseridos os feixes de fibras principais (fibras de sharpey) é chamado de ” osso fasciculado”. A nutrição do osso é sustentada pelos vasos sanguíneos presentes nos canais de Harvers (vertical) que se conectam com os vasos nos canais de Volkmann (horizontal, que atravessam o osso). Os canais de Volkmann perfuram o osso, através do quais vasos sanguíneos, linfáticos e fibras nervosas passam do osso alveolar para o ligamento periodontal.
Remodelação do Osso Alveolar
O osso alveolar é a estrutura menos estável dos tecidos periodontais, visto que sua estrutura se encontra num estado de constante adaptação e remodelação. Uma quantidade considerável de remodelação interna ocorre por meio de reabsorção e formação, e isso é regulado por influências locais e sistêmicas. O tecido ósseo possui as seguintes células:
- Osteoblastos: produção de matriz óssea não mineralizada (osteóide) para posterior mineralização. Os osteoblastos que ficam armazenados no interior da matriz mineralizada regridem de tamanho e função, tornando-se osteócitos.
- Osteócitos: responsáveis pela manutenção do tecido ósseo.
- Osteoclácitos: oriundos dos monócitos, são células responsáveis pela destruição da matriz óssea mineralizada.
A influências locais incluem demandas funcionais do dente e mudanças ósseas relacionadas com a idade.
Influências sistêmicas são provavelmente de caracter hormonal (p. ex. hormônio da paratireóide, calcitonina, vitamina D3).
A remodelação do osso alveolar afeta sua altura, contorno e densidade e manifesta-se nas seguintes áreas:
- Adjacente ao ligamento periodontal.
- Em relação ao periósteo das tábuas vestibular e lingual.
- Ao longo da superfície do endósteo dos espaços medulares.
Referências
CARRANZA Jr., F.A.; NEWMAN M.G.; TAKEI H.H. Periodontia clínica , 12 o ed., Ed. Elsevier, Rio de Janeiro, 2016.
LINDHE, J. Tratado de periodontologia clínica e implatologia oral, 5 o ed., Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2010.